(Foto: Reprodução/Campo Grande News)

Se estivesse vivo, herói botucatuense Antônio Fermiano completaria 100 anos de vida

Falecido em abril de 2021, o ex-combatente botucatuense Antônio Firmino, que lutou na Segunda Guerra Mundial, completaria 100 anos de idade na última semana. Nascido em Botucatu no dia 26 de outubro de 1922, Antônio era neto de escravos e filho da Sra. Cristina e do Sr. Laudelino Fermiano, sendo o sétimo entre os onze filhos do casal.

Começou a trabalhar muito cedo, com nove anos de idade, na Fazenda Experimental Edgárdia, hoje administrada pela UNESP. Aos 18, Antônio comemorou seu aniversário usando seu primeiro par de sapatos. No entanto, aquele mesmo ano de 1940 lhe trouxe uma grande perda: o falecimento de seu pai, Sr. Laudelino.

Enquanto a Alemanha nazista e a Itália fascista declaravam guerra aos Estados Unidos, Antônio Fermiano estava trabalhando como candeeiro de boi na plantação de café e como lenheiro, na bucólica paisagem rural de Botucatu. A mais de setecentos quilômetros ali, na cidade do Rio de Janeiro, o governo brasileiro comunicava aos governantes do Eixo – grupo que reunia Itália, Alemanha e Japão – o afastamento definitivo do convívio daquelas nações, o que desaguou na declaração de guerra do Brasil àqueles países, em agosto de 1942.

Guerra declarada, o alistamento iniciou-se através do recrutamento por sorteio: periodicamente, listas saiam nos jornais indicando os cidadãos convocados. O serviço militar na época era regido pelo Decreto-Lei 1187, de 4 de abril de 1939. A obrigatoriedade do serviço militar em tempo de paz começava a partir do início do ano civil em que o cidadão completava 21 anos de idade (hoje, são 18 anos).

Ao alto de seus quase dois metros de altura, Antônio Fermiano foi sorteado em 1944, quando foi incorporado ao Exército Brasileiro. Na época, os alistados em Botucatu e região serviram no então coeso estado de Mato Grosso, que aglutinava o território hoje dividido entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Sendo assim,  Fermiano iniciou sua carreira militar na cidade de Campo Grande, no Estado do Mato Grosso, no antigo 18º BC- Batalhão de Caçadores, lá servindo por aproximadamente oito meses. Logo depois, sua unidade foi deslocada ao Rio de Janeiro.

No percurso rumo à capital federal, a tropa fez baldeação em Bauru. Obrigatoriamente, o comboio ferroviário passaria por Botucatu, cidade de nascimento do então soldado Antônio Fermiano. Coincidentemente, sua residência ficava na margem da estrada de ferro. Como o trem especial não pararia em Botucatu, os parentes de Fermiano se perfilaram à passagem do trem, em despedida do querido familiar. Um momento difícil para os familiares, pois poderiam não mais ver o seu ente querido.

Rumo à Europa

Chegando à “cidade maravilhosa”, sua tropa deu continuidade ao treinamento recebido no Mato Grosso. No dia 23 de novembro de 1944, 4.691 guerreiros brasileiros embarcaram no navio de transporte americano General Meigs, com destino ao porto italiano de Nápoles, sem saber se voltariam com vida. Chegaram à Europa em 7 de dezembro de 1944, em uma perigosa viagem de 14 dias: os mares estavam repletos dos temíveis submarinos alemães U-Bolts.

O soldado Fermiano era um dos passageiros do 4º Escalão da FEB de um total de cinco, perfazendo mais de 25.300 combatentes. O efetivo de todo o 4º Escalão foi classificado no depósito de pessoal, e, apesar da impropriedade do nome, destinava-se às substituições e preenchimentos dos três escalões anteriores, desfalcados em decorrência de mortes, ferimentos ou extravios dos pracinhas –  “pracinha” era o termo carinhoso pelo qual os brasileiros chamavam os membros da Força Expedicionária Brasileira que lutaram nos campos italianos contra o nazifascismo, durante a II Guerra Mundial.

A Força Expedicionária Brasileira tornou-se operacional em ações de guerra na Itália desde a substituição da tropa americana no setor de Ospedaletto, junto ao lago de Massaciuccoli, no Vale do Rio Arno, em 15 de setembro de 1944. A FEB era subordinada ao V Exército Americano, recebendo, em todos os cinco escalões, treinamento, fardamento, doutrina e armamento ianque. “Aqui no Brasil não tínhamos recebido treinamento nenhum. Se fôssemos pra batalha assim que chegássemos, seríamos liquidados rapidamente, seria um desastre”, lembra Antônio.

A FEB ficou responsável, mais especificamente, pelo desmantelamento da chamada Linha Gótica, no norte da Itália, uma importante trincheira de defesa da Alemanha Nazista, instalada em um complexo montanhoso de quase 300 km. O primeiro disparo realizado por nossa artilharia contra as hordas nazifascistas foi no dia seguinte, 16 de setembro de 1944.

Várias cidades italianas foram libertadas pelos Expedicionários brasileiros no início da campanha, tais como Massaroca, Bozzano, Chiesa, Camaiore, dentre outras. Sob o gélido inverno europeu, os integrantes do 4º Escalão treinaram muito em período adaptativo no solo italiano, pois logo teriam o batismo de fogo nas linhas de frente.

No dia 21 de fevereiro de 1945, o Regimento Sampaio – do qual participava Antônio – após quatro tentativas realizadas desde novembro do ano anterior, enfim conquistou o Monte Castello. O fato é um dos capítulos mais emblemáticos da participação brasileira na II Guerra, que embebedou a terra peninsular italiana do sangue de nossos compatriotas. Nossos pracinhas, em especial Ferminiano, desalojaram os nazifascistas do cume das montanhas. “Eles matavam mesmo, tinham armamentos pesados e era muito difícil combatê-los, lembro de um medo constante, de não saber a hora que seríamos atacados”, recorda Antônio em entrevista ao portal Campo Grande News.

Apesar da vitória em Monte Castello, a guerra ainda não estava finalizada. No meio do caminho dos pracinhas brasileiros até a vitória final havia literalmente uma pedra, a cidade de Montese. Foi nesta pequena cidade que o botucatuense Fermiano, com apenas 22 anos de idade, tornou-se um herói ao lado de seus demais irmãos de armas. Lá, no mês de abril de 1945, na “Ofensiva da Primavera”, a FEB travou a sua maior batalha urbana durante a Campanha – após três dias de combate, 75% da cidade estava destruída. Mais uma vez, o sangue brasileiro encharcou o solo italiano; todavia, o inimigo pagou um preço caríssimo, sofrendo uma tremenda derrota.

A batalha teve início no dia 14 de abril de 1945. No dia seguinte, em um dos ataques pela posse de Montese, entre esta cidade e Sassomolare, o soldado Antônio Fermiano foi ferido. Durante o avanço, um morteiro lançado pela artilharia alemã contra os brasileiros atingiu o corpo inerte de um sargento americano, morto no dia anterior. Embaixo desse guerreiro tombado, há uma granada, que explode e atinge a perna direita de Antônio Fermiano.

Socorrido para o Hospital de Campanha de Montese, permaneceu internado por alguns dias, recuperando-se rapidamente dos ferimentos e voltando a ação. No ataque a Montese, o soldado Fermiano foi uma das 430 baixas brasileiras  – incluindo 34 expedicionários mortos. A vitória de Montese, a mais sangrenta batalha da qual participaram as tropas brasileiras na Itália, contribuiu decisivamente para a desarticulação das linhas de defesa alemãs.

Sua participação foi registrada, através de elogio coletivo, em junho de 1945, em seu assentamento, mandado registrar pelo seu comandante, da 6ª Cia, com os dizeres: “Soldado 5891 (Antônio Fermiano), pelas provas de valor militar evidenciadas na frente de Sassomolare, no período de 02 a 27 de abril de 1945. Com seu esforço pessoal, sua dedicação e coragem muito contribuiu para que a 6ª Cia mantivesse a posição do maciço de Sassomolare (…) Exemplar no cumprimento do dever, suportou pesados bombardeios e perseverou na missão recebida.”

No dia 8 de maio de 1945 (conhecido como o “Dia da Vitória”), enquanto ocorria a comemoração aliada pela vitória sobre as forças teuto-italianas na Europa, o soldado Antônio Fermiano, que se encontrava em Roma, junto a vários companheiros de farda, tiveram uma raríssima oportunidade: conheceram pessoalmente o Papa Pio XII, na Cidade do Vaticano, recebendo suas bênçãos.

Com o tempo livre no pós-Guerra, os soldados brasileiros – Antônio Fermiano incluso – conheceram a Itália, que há pouco auxiliaram na libertação da tirania nazifascista, adaptando-se rapidamente ao idioma local. “Tivemos muito tempo livre depois que tudo acabou, aí fomos para Roma e lá pude ver o Papa”.

De volta ao lar

Enfim, o retorno: o pelotão partiu do porto italiano de Nápoles no dia 11 de agosto de 1945, a bordo do transporte americano “Mariposa”, e desembarcaram na cidade do Rio de Janeiro no dia 22 de agosto de 1945, onde desfilaram pela então capital federal. Após a solenidade, o Batalhão retornou ao seu quartel originário, na Vila Militar.

Logo que pôde, rapidamente se direcionou a Botucatu com o intuito de rever sua mãe, em seu histórico uniforme da FEB, com o símbolo da “cobra fumando” em sua manga esquerda, referência ao ditado famoso antes de o Brasil se posicionar ao lado dos Aliados, de que o Brasil só iria pra guerra se uma cobra fumasse. “Pois é, a cobra fumou”, disse Antônio mostrando o brasão. Já em território pátrio e em decorrência de sua participação na II Guerra, o soldado Fermiano foi agraciado com a  Medalha de Campanha da FEB, a Medalha Sangue do Brasil e o Diploma de Ferimento em Ação.

Segundo declarou o Sr. Antônio Fermiano ao tenente-coronel Sérgio Marques, da PMESP, o legado da Guerra foi “a igualdade”: na Guerra, os pracinhas brasileiros eram tratados pelo exército americano e pelos outros exércitos como iguais, com a mesma importância, independentemente de qualquer diferença. Todos recebiam a mesma alimentação, uniforme, armamento e compartilhavam de um inimigo em comum.

A homogeneidade, no entanto, parava por aí: os europeus, tanto aliados quanto inimigos, surpreenderam-se com a composição multirracial da FEB. Era uma mescla (impensável para eles) de caboclos, negros, brancos, mulatos, índios, descendentes de japoneses, alemães, italianos, polacos, árabes, etc.

Apesar de nossas restrições, especificamente de ordem material, com o tempo a FEB se tornou uma uníssona “máquina de guerra”. Lutando em espaço geográfico em condições totalmente diferentes daquelas encontradas no Brasil, a FEB conquistou o respeito de todas as tropas.

No dia 18 de setembro de 1945 foi dispensado das fileiras do Exército, considerado reservista de 1ª categoria, recebendo o certificado especial nº 09.514. Mas os problemas logo bateriam à porta do jovem expedicionário. As honrarias recebidas por Fermiano naqueles dias não o ajudaram, bem como aos demais veteranos de guerra, que foram dispensados com uma mão na frente e outra atrás.

Fermiano e seus irmãos de armas, desmobilizados e ignorados pelo Governo, sem nenhum apoio estatal, passaram por dificuldades de todas as espécies, principalmente, emocionais e financeiras. “Fiquei muito triste com a forma com que fui tratado. Dei meu sangue pela minha pátria e fui tratado como se não fosse ninguém”. O ex-combatente é, infelizmente, mais um nessa triste estatística de abandono pós-guerra. A maioria dos militares da FEB foi deixada à própria sorte, sem renda.

Uma nova profissão

Como tivera excelente adaptabilidade na vida de caserna, decidiu por se inscrever como voluntário na Força Pública, atual PMESP, instituição que o acolheria profissionalmente e que se tornou seu grande orgulho. Após aprovação nos exames de praxe, ingressou como soldado nas fileiras da Força Pública, no dia 10 de outubro de 1946. Dois dias após foi apresentado na 2ª Cia do Batalhão Escola, no Curso de Instrução Militar, no Barro Branco, bairro do Tucuruvi, na zona norte da Capital.

Após a conclusão do curso de recrutas, Fermiano foi classificado, no dia 5 de janeiro de 1947, na 6ª Cia do Corpo de Bombeiros da Força Pública. Por conveniência do serviço, várias vezes fora transferido de Companhia, todas do Corpo de Bombeiros, abrangendo várias áreas do Estado. Acabou por conhecer e trabalhar em muitos destacamentos na capital, no interior e no litoral. Mesmo com a escala de serviço apertada, sempre que sobrava um tempinho Fermiano retornava a Botucatu para rever sua mãe, Dona Cristina. Alegrava-se com os demais familiares e amigos, nunca perdendo contato com suas origens.

Na capital bandeirante, destacou-se na atuação no combate ao grave incêndio que se apoderou de um prédio em construção, de cinco andares, que arrebatou ao seu lado o Edifício Íbis, de nove andares e outras duas construções na Av. São João, em setembro de 1950. Às margens da famosa avenida, uma multidão espantada assistia à fúria das labaredas de fogo, que a tudo consumia. Além da falta de água para combater o desastre, os “soldados do fogo” ainda socorreram onze pessoas queimadas, incluindo bombeiros, e duas pessoas mortas.

Fermiano também se destacou pela atuação contra o incêndio no salão de bailes “Clube Elite XXVIII de Setembro”, na madrugada de 13 para 14 de julho de 1953. Com alvará para 130 pessoas, cerca de 300 pessoas se divertiam no interior do clube quando o incêndio principiou, vitimando 53 pessoas. Por sua conduta no incêndio, também foi elogiado individualmente: “de 13 para 14 de julho, na Rua Florêncio de Abreu, onde perderam a vida mais de 50 pessoas, inclusive, um cabo de nossa Unidade, elevando, por seu amor ao trabalho, dedicação, arrojo e amor ao próximo, o nome de nosso Corpo de Bombeiros”.

Logo depois do terrível incêndio no clube, o soldado Antônio Fermiano foi transferido para o Destacamento do Corpo de Bombeiros de Jundiaí, cidade onde encontraria sua cara metade, a Srta. Leonilda. Durante o período em que lá estava, Fermiano soube do falecimento de sua mãe, Sra. Cristina, o que lhe causou uma enorme dor em seu coração e o forçou a licenciar-se por alguns dias.

Com 32 anos, 14 de maio de 1955, na cidade de Jundiaí, casou-se com a Sra. Leonilda Francisca de Melo, que acrescentou ao seu sobrenome a alcunha Fermiano. A família se estabeleceu na zona norte da cidade de São Paulo, no bairro de Vila Nova Cachoeirinha. No dia 03 de março de 1956 foi presenteado com o nascimento de sua primogênita, Teresa Cristina Fermiano, homenageando com o nome de sua estimada mãe.

Por merecimento, Fermiano foi promovido à graduação de cabo da Força Pública, permanecendo no Corpo de Bombeiros. Aquele menino humilde, por esforço pessoal, alcançava o segundo degrau na hierarquia militar.

Para continuar crescendo na hierarquia da Força e alcançar a graduação de Sargento, necessitava pertencer ao Quadro de Motoristas. Sempre se aprimorando, em 12 de setembro de 1956 ingressou no Quadro de Motoristas, estando habilitado a conduzir jipes, micro-ônibus e caminhões.

Em março de 1957 foi remanejado do Destacamento dos Bombeiros de Jundiaí para o do Bairro do Limão, na zona norte da Capital. No mesmo ano, a epidemia da “gripe asiática”chegou ao estado de São Paulo. O cabo Fermiano transportava os médicos, que cuidavam dos enfermos infectados nos bairros periféricos da zona norte da Capital, como Freguesia do Ó, Cachoeirinha e Brasilândia.

Sete meses depois, São Paulo passou por uma forte estiagem, em decorrência da severa diminuição das chuvas. A Força Pública se empenhou em minimizar os prejuízos da sociedade, especialmente através do Corpo de Bombeiros, com carros pipas distribuindo água. O cabo Antônio Fermiano no período foi elogiado, pois: “demonstrou grande espírito de sacrifício e amor ao trabalho”, objetivando minorar os sofrimentos da população.

Seu trabalho duro deu frutos: Fermiano conquistou a graduação de 3º sargento motorista em dezembro de 1957, permanecendo no Corpo de Bombeiros. Mesmo nesta patente, o salário oferecido aos integrantes da Força Pública não era suficiente para seu sustento. Sendo assim, Fermiano complementava a renda, nos horários de folga, demolindo residências, confeccionando “bolas de capotão”. Sempre ao seu lado, Dona Leonilda, além dos trabalhos do lar e na educação da filha, costurava para fora, auxiliando no aumento da renda para o sustento digno da família.

No ano de 1961, a defasagem salarial na Força tornou-se insustentável. Como o governador era insensível aos clamores e reivindicações dos integrantes da Força, deflagrou-se um movimento em 13 de janeiro de 1961, encabeçado por oficiais e praças do Corpo de Bombeiros, com adesão de várias unidades da Força. Após interrupção das atividades, no dia seguinte, dia 14 de janeiro, 513 policiais foram presos, inclusive Antônio Fermiano. Após alguns dias, a Justiça Militar os colocou em liberdade e, em dezembro, todos os indiciados foram anistiados pela sentença do juiz Agnello Camargo Penteado.

Em maio de 1963, mais uma promoção foi publicada: Antônio Fermiano agora era 2º sargento motorista, classificado também no Corpo de Bombeiros. No ano seguinte, oito anos após o nascimento de sua primeira filha, Dona Leonilda deu à luz a Valdir Fermiano, segundo filho do casal. No outro ano, no dia 24 de setembro, nasceu sua filha Ivani Fermiano, que disse sobre seu pai: “é o nosso tesouro, uma fonte inesgotável de sabedoria e alegria”.

Sua última promoção na ativa ocorreu em outubro de 1966, quando foi elevado à graduação de 1º Sargento da Força Pública, permanecendo no Corpo de Bombeiros. Por força de lei, foram concedidas duas promoções concomitantes e consecutivas. A primeira, no posto de 2º tenente e, por ter participado da FEB como pracinha, no de 1º tenente da Força Pública.

Enfim, a tão sonhada aposentadoria

Com a contagem de tempo de serviço no Corpo de Bombeiros da Força Pública, somado ao tempo de trabalho na Fazenda Experimental Edgardia, acrescentando o tempo no Exército Brasileiro – contando em dobro no período da guerra – no dia 11 de julho de 1967 o 1º sargento Antônio Fermiano completou a sua missão como militar estadual. Foi à reserva, tornando-se veterano da Instituição.

Em 1969, nasceu o filho caçula de Fermiano com D. Leonilda, Vladimir Fermiano. No ano seguinte, com a extinção da Força Pública e da Guarda Civil, seguida da unificação de quase totalidade de seus respectivos efetivos (formando a PMESP), o 1º tenente Antônio Fermiano passou automaticamente à reserva da nova associação. 

Curtindo sua aposentadoria, Fermiano dedicou-se às atividades que sempre apreciou. Trabalhou na lavoura, plantando tomates e entregando-os no Ceasa, em São Paulo, produtos colhidos de seu sítio em Ibiúna, local em que se estabeleceu após sua aposentadoria na Força Pública. Em 6 de setembro de 1979, o falecimento de D. Leonilda foi um grande baque para toda a família. Em janeiro do ano seguinte, Fermiano decidiu se mudar com a família para Aquidauana, no Mato Grosso do Sul.

Lá o coração do 1º tenente Antônio Fermiano novamente se alegrou, pois encontrou uma estimada companheira, a nissei Fátima Saito Barbosa, com quem se casou em julho de 1980 e permaneceu unido por 41 anos, residindo na capital Campo Grande. Da união, mais quatro filhos: Ana Maria, Maria Helena, Valdinei e Vera Lúcia. Além de seus 8 amados filhos, Fermiano também foi abençoado com 8 netos e 3 bisnetos.

Em 1981, a família retornou para Botucatu, cidade natal do Sr. Antônio, onde continuou vivendo da agricultura. Somente com 96 anos, por limitações físicas, deixou o ofício do roçado. Em nossa cidade, em 15 de novembro de 1987, inaugurou-se, com solenidade, a Praça dos Ex-Combatentes da FEB, uma praça rotatória situada na confluência da Av. Leonardo Villas Boas com a Rua Lourenço Castanho, onde se encontra uma placa com os nomes dos 31 botucatuenses expedicionários, incluindo o de Antônio Fermiano.

As últimas homenagens

Recentemente, em seu aniversário de 98 anos, Fermiano foi mais uma vez homenageado: de volta a Campo Grande (MS), o soldado recebeu à porta de sua casa a Banda de Música da Base de Administração e Apoio do Comando Militar do Oeste, que executou a famosa Canção do Expedicionário. O pracinha foi aplaudido pelos militares, familiares e vizinhos por sua bravura e destemor ao embarcar para a Segunda Guerra Mundial e colaborar com a campanha da Força Expedicionária Brasileira.

Emocionado, em mais um momento histórico da sua vida, o Senhor Fermiano recebeu, da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, a Medalha de Campanha que foi perdida ao longo do tempo e sempre desejou tê-la de volta. “Este humilde soldado está vivo aqui, recebendo essa grande homenagem que nunca vi nada igual em toda a minha vida. Estou muito agradecido, muito obrigado mesmo, isso me deixa emocionado”, disse o ex-combatente, junto a seus filhos e netos.

O item dado a Antônio é original, afirma Wellington Corlet dos Santos, vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira de Mato Grosso do Sul. A medalha foi comprada e restaurada para ser entregue ao homenageado. “Fiquei muito feliz. Nunca fui tão bem tratado, nem quando voltei da guerra fui recebido assim. Fiquei ainda mais feliz de ter recebido a medalha no dia do meu aniversário”, declarou Antônio na presença de amigos, familiares e integrantes do Exército.

O herói de guerra Antônio Fermiano faleceu no dia 6 de abril de 2021, aos 98 anos. Em nota, a Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB) confirmou que a morte ocorreu por causas naturais, devido à sua longeva idade. Ele era o único remanescente dos pracinhas botucatuenses.

Em 27 de janeiro de 2022, o nome de Antônio Fermiano passou a integrar a galeria de Personalidades Notáveis Negras da Fundação Cultural Palmares, instituição pública voltada para a promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.

Nas redes sociais, o jornalista Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, prestou uma homenagem ao herói brasileiro: “A nova Palmares presta homenagem aos verdadeiros heróis, segundo o critério de relevância da contribuição histórica. Seguiremos reconhecendo o valor de quem, em razão do mérito e exemplo de vida, honra os cidadãos negros de bem e desperta sentimento de orgulho nos brasileiros”.

“Tenho muito orgulho de ter servido ao Brasil durante a guerra, os maiores legados do nosso sacrifício foram a liberdade e a igualdade”, concluiu Antônio em sua última entrevista à imprensa. Sentimento que se estende a todos nós, botucatuenses, que nos orgulhamos de termos um de nossos conterrâneos na linha de frente contra o nazifascismo.

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