(Foto: Arquivo pessoal)

“A democracia só será plena em uma sociedade igualitária”, por Isabel Conte

Apesar de comporem a maioria da população brasileira, as mulheres continuam subrepresentadas nos espaços políticos e de poder. Mesmo com a luta constante das mulheres pelo direito à participação em tomadas de decisões políticas, incluindo o direito ao voto, e pelo poder de se candidatar a cargos políticos, de maneira a conquistar voz ativa nos espaços de influência, esse cenário ainda é limitado e hostil.

Nas Eleições Gerais de 2018, apenas seis das 81 vagas do Senado Federal foram conquistadas por mulheres. Na Câmara dos Deputados, o cenário é semelhante: dos 513 eleitos, somente 77 eram do sexo feminino. Em 2018, apenas uma governadora foi eleita, e em 2020 os avanços envolvendo gênero foram muito pequenos nas eleições municipais.

Nas eleições deste ano, os dados são semelhantes. Mesmo sendo maioria na população, as mulheres são apenas 33,80% das candidaturas em 2022, contra 66,12% dos homens. Quando o critério racial entra na questão, a disparidade fica ainda mais evidente, mesmo dentro do recorte de gênero: mulheres pardas representam 34,6% das candidaturas femininas, enquanto as mulheres pretas representam 18,3% e as mulheres indígenas apenas 0,86% das candidatas.

Estes dados se evidenciam ainda mais discrepantes quando os comparamos com a quantidade de eleitores do sexo feminino. Dos 156.454.011 indivíduos que poderão votar no pleito, marcado para os dias 2 (primeiro turno) e 30 de outubro, em eventual segundo turno, 82.373.164 são do gênero feminino e 74.044.065 do masculino. O número de eleitoras representa 52,65% do eleitorado, enquanto o de homens equivale a 47,33%.

A diferença entre o Brasil real, de forte presença feminina, e o Brasil político, universo no qual as mulheres ainda são minoria, ocasiona uma desigualdade estarrecedora, não sendo possível enxergar a diversidade do povo brasileiro em nossos representantes políticos eleitos.

Para termos um país democrático e mais justo, é preciso que as decisões políticas sejam tomadas por todos e todas, por pessoas que representem diferentes segmentos da sociedade. Todas as mulheres independentes de classe social, cor, cis ou trans, precisam ter seu espaço na política respeitado e garantido. A democracia só será plena em uma sociedade igualitária.

Se seguirmos o mesmo ritmo, precisaremos de 20 anos para termos nos cargos eletivos o equivalente à nossa diversidade de gênero e raça. A desigualdade racial e de gênero são um ciclo vicioso no Brasil. Uma sociedade verdadeiramente democrática se faz com diversidade, em que todas as pessoas se sintam representadas e possam representar

Além de se tratar de uma questão de justiça de gênero, o aumento da participação política das mulheres no Brasil deve ser incentivado atentando para a importância de ter perspectivas diferentes nos espaços públicos e de influência. As mulheres trazem à frente questões fundamentais como saúde, segurança pública e educação. Os números mostraram que os países liderados por mulheres foram os que se saíram melhor na pandemia da Covid -19, a exemplo da Nova Zelândia e Dinamarca.

As mulheres na política são importantes porque são as melhores defensoras de si mesmas. Chavões como “as mulheres são mais sensíveis” ou “as mulheres são maternais”, são estereótipos ultrapassados e que precisam ser quebrados. A importância das mulheres na política é para que elas deixem de ser apenas as beneficiárias e passem a ser as protagonistas na edição e aprovação de projetos e programas, pois as mulheres têm muito oferecer pela sua capacidade. Para que possamos viver em uma democracia plena, há necessidade de se termos mais mulheres eleitas!

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