O deputado estadual Fernando Cury (UNIÃO) foi um dos autores de um requerimento para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar divergências entre as pesquisas eleitorais e os resultados do 1º turno das eleições de 2022. O projeto foi concebido pelo deputado Gil Diniz (PL).
Além dele, também assinam o documento os bolsonaristas Adriana Borgo, Agente Federal Danilo Balas, Aldo Demarchi, Alex de Madureira, Altair Moraes, André do Prado, Carlos Cezar, Castello Branco, Conte Lopes, Coronel Nishikawa, Coronel Telhada, Delegado Olim, Douglas Garcia, Edna Macedo, Frederico d’Avila, Gilmaci Santos, Leticia Aguiar, Major Mecca, Marcos Damasio, Rodrigo Moraes, Sebastião Santos, Tenente Coimbra e Valéria Bolsonaro.
Finalizam o projeto os deputados Adalberto Freitas, Delegada Graciela, Jorge Caruso, Murilo Felix, Ricardo Madalena e Thiago Auricchio, que apoiaram o candidato Tarcísio de Freitas no segundo turno. O último da lista, Daniel Soares, não declarou publicamente seu voto, assim como Fernando Cury, que sempre adotou uma postura moderada em sua atuação política e, agora, surpreende ao apoiar uma pauta tão identificada com Bolsonaro e seus apoiadores.
Segundo o regimento interno da ALESP, a CPI seria composta por nove deputados que, no prazo de 120 dias, apurariam e investigariam “as causas da divergência radical, extrapolante das margens de erro estatístico, entre as projeções das pesquisas eleitorais para Presidente da República, governador de São Paulo e senador por São Paulo e os respectivos resultados do primeiro turno das eleições de 2022”, segundo o documento.
Os resultados das pesquisas
Nas últimas pesquisas Datafolha, Ipec e Quaest, publicadas um dia antes da votação, Bolsonaro variava entre 36% e 39% dos votos válidos. No entanto, ele terminou a apuração com 43,2%, diferença acima da margem de erro dos institutos.
No caso do estado de São Paulo, a diferença foi ainda maior: as pesquisas indicavam que Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputariam o segundo turno, com o petista em primeiro e o ex-ministro de Bolsonaro em segundo. Os dois, de fato, avançaram, mas com Tarcísio à frente de Haddad por uma diferença de mais de um milhão de votos.
A eleição para o Senado também se mostrou diferente. Segundo o Datafolha de 1º de outubro, Márcio França (PSB) liderava a preferência do eleitor com 45% dos votos válidos. Atrás dele aparecia o ex-ministro Astronauta Marcos Pontes (PL), com 31%. No dia seguinte, Pontes foi eleito com 49,9%, enquanto França ficou em segundo lugar com 36,1%.
Por que isso aconteceu?
A discrepância entre as pesquisas eleitorais e o resultado das urnas não pode ser levada em suspeição, segundo Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center da Universidade de Michigan e membro da American Association for Public Opinion Research. “Do ponto de vista estritamente técnico, não tem como a gente dizer que pesquisas pré-eleitorais erram ou acertam o resultado das eleições. Elas são um retrato do momento”.
Segundo Nishimura, uma parte do eleitorado pode ter mudado o voto em cima da hora, depois das últimas pesquisas. O não comparecimento de 20% do eleitorado é outro ponto difícil de considerar nas sondagens. A terceira hipótese é de um viés de não resposta por parte de eleitores pró-Bolsonaro que desconfiam dos institutos.
Esse clima de desconfiança generalizada, diz o pesquisador, pode acabar virando uma “profecia que se autorrealiza” e se retroalimenta, impactando também as pesquisas no segundo turno e exacerbando o problema. “Bolsonaro utiliza uma narrativa de descredibilizar as pesquisas, o que pode fazer com que seus eleitores mais engajados não se predisponham a respondê-las, é uma hipótese”, conclui Nishimura.
Projeto ganha força entre os bolsonaristas
Gil Diniz não é o primeiro bolsonarista a reclamar dos levantamentos eleitorais: o líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), anunciou que apresentará um projeto de lei que criminaliza o erro nas pesquisas. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal reeleito e filho do chefe do Executivo, disse que coletaria assinaturas para abrir uma CPI na mesma semana.
Já o deputado federal bauruense Capitão Augusto (PL-SP) defende limitar a divulgação de pesquisas às vésperas de eleições. Outro a reclamar dos levantamentos, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) enviou um requerimento para abrir uma CPI na Casa contra os métodos de apuração.
O que diz Fernando Cury?
O Jornal Audácia entrou em contato com o deputado para registrar sua justificativa, mas não recebemos nenhuma resposta até o fechamento desta reportagem. Atualizaremos a matéria assim que formos atendidos.
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