Os 90 anos da revolução de 1932 e a participação de Botucatu no conflito

A Revolução Constitucionalista foi um movimento armado iniciado em 9 de julho de 1932, liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio Vargas. Durante quase quatro meses, os paulistas entraram em confronto com tropas fiéis a Vargas e, isolados, foram derrotados. O levante não foi em vão, pois, dois anos depois, foi promulgada a nova Constituição brasileira.

O movimento “revolucionário” dos anos 30 recebeu amplo apoio das forças militares e policiais paulistas, e também com grande parcela de Botucatu, mas seus objetivos foram golpeados pelo líder populista Getúlio Vargas. Ao chegar ao Governo, Vargas passou “a governar de forma inconstitucional, violando as regras do Estado de Direito”.

Uma das principais causas do conflito foi a ruptura da política do café-com-leite, alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo, que caracterizava a República Velha (1889-1930). Sem poder, a classe dominante de São Paulo passou a exigir do governo federal maior participação.Como resposta, Vargas negou-se a dividir poder com os paulistas e ameaçou reduzir seu poder dentro do próprio Estado de São Paulo, com a nomeação de um interventor de fora do estado para governar SP. Os paulistas não aceitaram as arbitrariedades de Getúlio Vargas, o que levou ao conflito que opôs São Paulo ao resto do país.

São Paulo tentou assumir um certo tipo de liderança, exigindo “o retorno do País ao pleno Estado de Direito”. No começo, muitos estados da Federação deram seu apoio, porém logo se esquivaram, isolando São Paulo nessa causa, onde os paulistas levantavam bandeiras por suas reivindicações pela Constituição. Seu objetivo principal era a volta do Brasil ao pleno Estado de Direito, sem ligação com movimento separatista. Houve uma mobilização gigantesca para levantar a “Bandeira Paulista”.

A participação de Botucatu foi “liderada” por muitos jovens, estudantes e oradores. Sobre este tema, temos um livro escrito pelo Dr. Sebastião de Almeida Pinto, participante da Revolução: “Botucatuenses no Setor Sul”.

Em um artigo publicado no jornal “Correio de Botucatu” em 22/07/1932, Dr. Joaquim Cândido de Azevedo Marques, que posteriormente encerrou sua carreira jurídica como desembargador, destaca o perfil dos principais líderes na mobilização da juventude:

“O exemplo, que vou citar, é digno de registro e louvor públicos.Assim que irrompeu no Estado o movimento cívico a que assistimos, Botucatu, como se lembram, fremiu de entusiasmo, numa congregação de todas as suas forças,para os preparativos da luta, a que não podíamos deixar de concorrer.À frente da propaganda patriótica que urgia empreender;puseram-se logo dois expoentes da nossa intelectualidade.Uniram-se, captaram outros elementos de influência; organizaram e logo entraram a executar um programa de ação, vasto, multiforme e trabalhoso. O resultado está na memória de todos: alistamento, comícios, predicas cívicas e toda sorte de atividades em prol da causa sagrada.Nos comícios, notadamente, foi preponderante o papel desses moços, pelo prestígio e fecunda do seu verbo.Oradores completos, no fundo e na forma, as suas orações calavam, seduziam, arrastavam e estimulavam a palavra de outros. Nesse terreno, o que se viu foi uma verdadeira batalha de eloquência, soberba de frutificação.”

Vários jovens morreram na luta pela constituição. Entre eles, destacam-se quatro estudantes que representam a participação da juventude no conflito: Martins – nascido em São Manuel, cidade localizada a 24 quilômetros de Botucatu -, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o MMDC. O movimento marcou a vida de outros milhares de paulistanos e brasileiros.

O desequilíbrio entre as forças governistas e constitucionalistas era grande. O governo federal tinha o poder militar e os rebeldes contavam apenas com a mobilização civil. As tropas paulistas lutaram praticamente sozinhas contra o resto do país. As armas e alimentos eram fornecidos pelo próprio Estado, que mais tarde conseguiu o apoio do Mato Grosso. Cerca de 135 mil homens aderiram à luta, que durou três meses e deixou quase 900 soldados mortos no lado paulista – quase o dobro das perdas da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Embora o movimento tenha nascido de reivindicações da elite paulista, ele teve ampla participação popular. Um dos motivos foi a utilização dos meios de comunicação de massa para mobilizar a população. Os jornais de São Paulo faziam campanha pela revolução, assim como as emissoras de rádio, que atingiam audiência bem maior.

Botucatu contou também com a participação do então prefeito Leônidas da Silva Cardoso (1891-1933). Como militar, sua patente era major, e foi fundador da Legião Revolucionária de Botucatu. Como prefeito, Cardoso ficou marcado por aumentar o calçamento para todas as vias da cidade, dando continuidade ao projeto de seu antecessor Antônio de Moura Campos.Em 1932, reorganiza o Tiro de Guerra sob a instrução do 3º Sargento Celso Lúcio Monteiro. Ativo, ajuda na organização do 2º Batalhão de Caçadores Voluntários de Botucatu, que seguiu ao front paulista na Revolução Constitucionalista, transformando Botucatu em um importante contribuinte para a Revolta de 32.

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