A Rádio Municipalista, a segunda mais antiga de Botucatu, comemora nesta sexta-feira (27) seu aniversário de 60 anos de atividades na cidade. A emissora fundada pelo empreendedor Emílio Peduti foi ao ar pela primeira vez em 27 de maio de 1962.
Seu fundador estava ocupando o cargo de prefeito de Botucatu à época da inauguração, cadeira em que já havia se sentado de 1952 a 1956. Seu mandato foi abreviado repentinamente em 1963, ano em que morreu subitamente, aos 59 anos de idade.
A “Rádio do Povo”, como é chamada, foi fundada segundo a doutrina municipalista, segundo um áudio gravado pelo advogado Vasco Bassói e disponibilizado pelo podcast Rádio em Botucatu. “Havia em Botucatu uma vontade dominante, quase que de toda a coletividade, no sentido de se obter uma outra rádio que defendesse os ideais municipalistas. E o Sr. Emílio Peduti, atendendo aos reclamos de tanta gente e de tantos que queriam subscrever ações, assumiu sozinho esta tarefa”, disse o ex-vereador.
O advogado conta que o primeiro passo seria a concessão de serviços de radiodifusão comercial, a ser autorizada pelo governo federal. “Saímos de avião direto para Brasília, porque naquele dia, por volta das 11h00, o presidente da República, Jânio da Silva Quadros, lançaria a pedra fundamental da Casa do Município e nós, evidentemente, aproveitaríamos aquele ensejo para fazer a entrega do nosso pedido para a concessão de uma rádio para Botucatu”, disse o político.
No entanto, o evento não foi exatamente como eles esperavam. “Chegando ao local da solenidade, fomos surpreendidos pela ausência do presidente da República, mas com a presença do seu subchefe da Casa Civil, o deputado Araripe Serpa. Em seguida ao encerramento desta solenidade, nós nos acercamos do Araripe Serpa e fizemos a entrega do pedido da concessão de uma rádio para Botucatu. Isto então era por volta do meio dia”.
Mais tarde, a caravana botucatuense formada por Emílio Peduti, Vasco Bassói e Arnaldo Horta de Melo (popularmente conhecido por Arnaldo Padeiro) visitou o Palácio do Planalto. “Fomos então recebidos pelo chefe da Casa Civil do Presidente da República, que era o Sr. Francisco Quintanilha Ribeiro. Pois bem, naquele instante tocou a campainha, a comunicação que havia direta entre ele e o presidente da República, e ouvimos a voz do presidente Jânio Quadros chamando o Quintanilha para despacho. Então, ele, muito apressado, disse: ‘Eu preciso subir, porque o Jânio é muito pontual, me desculpem’, e foi saindo. Quando chegou na porta de saída, ele disse: ‘Podem ir embora, porque o Jânio já concedeu a concessão da Rádio Municipalista de Botucatu’. Foi assim, portanto, que nós tivemos a notícia no mesmo dia. E disse ainda: ‘Dentro de alguns dias vocês serão chamados para comparecerem ao Ministério da Justiça, no Rio de Janeiro’.” E assim foi.
Depois de uma semana, ficou a cargo de Bassói entregar ao Ministério da Justiça toda a documentação necessária para a outorga da rádio. “Tomei um avião num dia de semana à tarde e cheguei ao Rio de Janeiro à noite. No outro dia, fui ao Ministério da Justiça e lá eu tive a grata satisfação de encontrar o meu colega Dr. Orlando Brando Felinto, que era chefe de gabinete do ministro Pedroso Horta. Ele nos recebeu imediatamente e, dentro de um ambiente de total euforia, nos disse que dentro de no máximo dez dias seria publicado o ato da concessão da rádio. E isto aconteceu de fato: logo depois nós tivemos a notícia da autorização do Presidente da República para a concessão deste canal, que depois teve a denominação de Rádio Municipalista”, conclui Vasco Bassói em seu depoimento..
O radialista José Roberto Quinteiro também participou da inauguração da rádio e contou os detalhes daquele evento, segundo áudio obtido pelo mesmo podcast. Segundo ele, a veia esportiva da Rádio Municipalista vem de berço. “Na tarde daquele dia 27 de maio de 1962, [houve] a primeira grande transmissão externa da Rádio Municipalista de Botucatu: no Estádio Dr. Acrísio da Cruz, da Associação Atlética Ferroviária, pela Taça Cidade de São Paulo, um jogo de futebol envolvendo o time da Ferroviária, time de profissionais, versus Sociedade Esportiva Palmeiras, da capital. Jogo que terminou empatado em 2 a 2”, disse o jornalista.
Ao longo dos anos, diversos profissionais de renome na imprensa botucatuense passaram pela Rádio do Povo, como os diretores Jaime Contessote e Mário Perini; e os radialistas Ada Marisa, Bahige Fadel, Haroldo Amaral, Jaime Contessote Junior, Júnior Quinteiro, Luiz Henrique Paes de Almeida, Marcelo de Oliveira Gomes, Márcio Paes de Almeida, Pablo Contin, Rabib Neder, Santângelo e Valdemir Ramos, dentre muitos outros.
Atualmente, a equipe da rádio conta com o diretor Vanderlei dos Santos, que trabalha na Municipalista desde 1975, e os radialistas Almeida Junior, Carlos Pessoa, Cristiano Alves, José Maria Leonel, Sheila Adriana e Walter Cesar Pianucci (Cesar Junior), dentre outros. A “Muni” pode ser sintonizada em mais de vinte cidades da região pelo sinal 1240 AM e no mundo inteiro através do Facebook e sites de streaming.
Ao todo, são centenas de milhares de pessoas que acompanham a programação da emissora, como a Rádio Mulher, A Tarde é Nossa e o carro-chefe da emissora, o programa jornalístico A Marreta, apresentado diariamente pelo âncora Vanderlei dos Santos e os repórteres Cristiano Alves e Carlos Pessoa.
“A emissora sempre está do lado do povo. Nas horas mais complicadas, nas horas de maior dificuldade, na hora que o povo precisa de uma mão amiga, na hora que o povo precisa de uma ajuda, a Municipalista acaba ajudando muitas pessoas”, disse Vanderlei durante o programa A Marreta no aniversário de 59 anos da emissora, em 2021.
Apoie a mídia independente de Botucatu. Com R$5 por mês você já ajuda a quebrar a hegemonia de informação na nossa cidade. Apoie o Jornal Audácia através da campanha de financiamento coletivo.