(Foto: Pascom Menino Deus/Reprodução)

Congregação das Servas do Senhor completa 70 anos de fundação

A Congregação das Servas do Senhor, criada em Botucatu pelo bispo Henrique Golland Trindade e sua irmã biológica, Irmã Henriqueta, completa 70 anos de fundação neste ano. A ordem foi fundada em 15 de setembro de 1952 e conta com casas em diversas cidades, como Itatinga, Bebedouro, São Paulo, Uberaba (MG), Frutal (MG) e Macaé (RJ).

A congregação foi idealizada por Dom Henrique enquanto ainda era bispo da diocese de Bonfim, na Bahia, ao perceber as necessidades espirituais e materiais da população carente do meio rural, conforme conta a superiora da ordem, irmã Fátima Garcia Leal. “Ele ia pra zona rural e encontrava crianças sem catequese, famílias que nem mesmo sabiam como responder à Santa Missa. Ele se preocupava com aquilo e pensou em fundar uma congregação para auxiliar nesse sentido”, conta Fátima.

No entanto, Dom Henrique foi transferido para a diocese de Botucatu antes de concretizar este projeto. Ao chegar à nossa cidade, encontrou a mesma realidade entre a comunidade rural da diocese. Para implantar a Congregação das Servas do Senhor, Golland necessitou do auxílio de sua irmã de sangue, Irmã Henriqueta, que era religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência.

Conta a irmã Fátima: “Ela necessitou de uma licença especial do Papa para auxiliar na fundação da Congregação, porque ele, sendo um bispo, tinha todas as suas ocupações, e também por ser uma congregação feminina, ele viu que era melhor que a irmã dele acompanhasse. Ela veio e ficou conosco até morrer”.

Em nossa cidade, a ordem foi responsável por diversas obras assistenciais, como a Casa das Meninas e o Asilo Padre Euclides, e hoje estão presentes na Vila dos Meninos, localizada na Vila Aparecida. Estes projetos se conciliam com o propósito da congregação, segundo sua superiora: “Nosso cotidiano é pautado pela oração, pela vida comunitária e pelo trabalho”.

Hoje em dia, a congregação conta com 16 irmãs, dos 23 aos 90 anos de idade, que seguem uma rotina definida. “O nosso horário de despertar é sempre às 05h30 da manhã. Continuamos com a oração, temos a Santa Missa – nos dias que não tem em casa, nós vamos fora – temos o café da manhã e, depois, os trabalhos da casa, e assim continuamos. Este é o período mais tranquilo de oração, em que as irmãs se reúnem para estarem ali juntas”, explica Fátima.

Esta disciplina necessária para seguir a vida religiosa pode ser uma das razões pelas quais a Igreja Católica sofre com a falta de vocações, segundo a superiora. “Querendo ou não, ela exige uma certa perseverança, exige um certo ‘deixar tudo’. Como eu sempre falo, na vida religiosa nós temos tudo e não temos nada, porque nada é nosso. Isso é muito difícil para a juventude de hoje, porque nós vivemos na época que é do ‘poder’ e do ‘ter’”.

Além disso, a irmã ainda aponta a crise na instituição familiar como causa da carência de vocações. “As famílias antigas tinham mais filhos, e as famílias de hoje são um, dois, no máximo três filhos”. E prossegue: “As famílias de hoje não têm o mesmo alicerce das famílias passadas, e a vocação se alicerça na família. Hoje até mesmo os casamentos não são duráveis. Quantas pessoas que hoje assumem o casamento com aquela questão ‘se deu certo, deu, se não deu, estou separando’? E a vida religiosa também se tornou isso ‘eu vou pro convento, se deu certo, deu, se não deu, eu retorno’. Então, às vezes até entra, mas não tem aquela perseverança”, esmiúça a superiora.

O cotidiano da ordem se tornou ainda mais complexo após o falecimento de quatro irmãs durante os quatro primeiros meses de 2021, sendo três delas em decorrência de infecção pela covid-19. Segundo a irmã Fátima, foi necessária fé e unidade para superar esse momento. “As famílias passaram por isso e nós, enquanto família religiosa, passamos por isso também. E vejo que numa dinâmica de fé, acredito que para nós isso foi muito tranquilo, porque a gente viveu essa dimensão da fé, viveu essa dimensão da unidade. Embora a gente tenha sofrido com tudo, eu acredito que para nós, especialmente aqui em Botucatu, a população foi muito solidária em tudo, porque a gente teve o apoio espiritual da Igreja e também não faltou o apoio em sentido material da comunidade”.

Mesmo com estas dificuldades, o serviço de animação vocacional da congregação segue sendo procurado por jovens que desejam se tornar Servas do Senhor, segundo a superiora. “O acompanhamento vocacional começa a partir do momento em que a jovem manifesta o desejo de querer a vida religiosa. Geralmente nós temos uma irmã que faz esse trabalho vocacional e aí começa o acompanhamento, porque é muito importante nesse tempo que a jovem está decidindo ter alguém que a acompanhe, porque aparecem muitas dúvidas, a pessoa fica muito insegura, então sempre tem esse acompanhamento. Geralmente, a gente também promove encontros para que as jovens venham, conheçam e experimentem para verem se realmente é isso que querem”.

A Congregação das Servas do Senhor se localiza na Rua Carvalho de Barros, número 99, no Jardim Dona Nicota de Barros. Devido à fragilidade das irmãs idosas ao contágio pelo coronavírus, as missas na capela do convento não estão abertas ao público até o presente momento.

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