A Associação Fraternal Pelicano, mais conhecida pela sigla AFRAPE, completa vinte anos de fundação neste ano. Criada em 30 de setembro de 2002, a associação beneficente tem por finalidade promover programas educacionais, culturais e profissionalizantes a toda a comunidade de Botucatu.
Segundo Miguel Jair Svicero, um dos membros fundadores da AFRAPE, o grupo surgiu com o objetivo de “fazer alguma coisa para a comunidade, mas nem onde todo mundo faz e nem da mesma forma que todo mundo faz”.
Para isso, a diretoria fundadora decidiu estudar a realidade do local em que a sede está instalada, na região norte da cidade. “O local onde nós estamos foi escolhido porque era um ponto de tráfico de droga, então a gente fez uma conversão, trocar o ponto de droga por uma escola”, conta Jair.
Assim, a AFRAPE nasceu direcionada à capacitação de pessoas, oferecendo cursos profissionalizantes para jovens e adultos da comunidade. “A gente percebeu que, por exemplo, no posto de saúde havia crianças com um baixo índice de nutrição e, consequentemente, se a gente desse cesta básica, a gente ia dar cesta básica para todo mundo e a vida inteira. Então, a gente pensou em uma forma de ensinar a pescar em vez de dar o peixe”, diz Svicero.
A AFRAPE passou a oferecer atividades para crianças ao perceber que muitas alunas da entidade não tinham com quem deixar seus filhos, conforme conta Jair. “A mãe reclamava que ela vinha na escola, mas não podia deixar o filho em casa, então a gente percebeu que tinha um vácuo nessa história que precisava ser preenchido. Então começamos a trabalhar com poucas crianças, mas começamos”.
Essas crianças, filhas de frequentadores e frequentadoras da AFRAPE, também se tornaram alunas da entidade. “Percebemos que, se a gente parasse com essa criança aos 14 anos e depois devolvesse ela para a rua, todo o investimento poderia ser perdido. Então começamos a investir em educação de cultura, de forma que a gente começou a ensinar iniciação musical bem devagar e criamos uma bandinha, que começou a entusiasmar todo mundo”, conta Jair, relembrando o início das atividades culturais na AFRAPE.
Vinte anos depois, o impacto das atividades assistenciais da AFRAPE já é visível na região. “Quando a gente fala desenvolvimento local, estamos falando de cabeças, de pessoas e também das suas cercanias. Se você olhar o que era AFRAPE aquela época e o que é hoje, ela cresceu, mas tudo em volta dela cresceu, porque quando chegamos lá era uma região com poucas casas em volta e hoje é tudo fechado, então virou um bairro mais tranquilo”, lembra Svicero.
Hoje em dia, além destas atividades, a organização também disponibiliza programas escolares, esportivos e culturais. Dentre elas, destacam-se a Banda Marcial, a Orquestra de Viola Caipira e a creche Azize Fadel Camargo, localizada no distrito de Rubião Júnior. “É uma creche da prefeitura e a gente faz a gestão, ou seja, a gente contrata os professores e toma conta de acordo com um convênio que a gente tem com a prefeitura”, diz o atual presidente da AFRAPE, Luiz Carlos Devienne de Almeida.
As atividades musicais, inclusive, foram o projeto pelo qual a AFRAPE foi três vezes contemplada pelo projeto Criança Esperança, campanha nacional de mobilização social promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como conta Svicero.
“Na primeira vez, a gente foi na sobra de recurso. Eu me lembro até hoje, o nosso número de inscrição era 1070, então para conseguir um negócio desse tem que ir na migalhinha, no que sobra. Então fomos estrategicamente nesse sentido. Na segunda vez, ampliamos o processo da banda. Já na terceira vez, houve um concurso somente para as organizações que já haviam sido contempladas e nós fomos uma das contratadas que tinham ganho e que ganhou novamente também. O dinheiro que conseguimos lá serviu por dois anos, construímos até um prédio para a biblioteca”, lembra.
Jair se emociona ao comparar o início das atividades da AFRAPE com os dias de hoje. “Nós éramos tão pequenininhos, começamos com uma classe de alfabetização para poder fazer as pessoas aprenderem a ler um pouquinho melhor e ganharem um dinheirinho, e hoje a gente percebe que a gente chega a um envolvimento de 700 pessoas por ano, 800 pessoas por ano, dependendo dos contatos que a gente realiza para captação de recursos. Então aí você percebe o que era antes e o que é hoje: começamos com dez e hoje estamos atendendo quase 800 pessoas anualmente”.
Luiz estima que a associação atende, hoje em dia, cerca de 120 crianças na sede, 110 crianças na creche e mais 100 nas atividades musicais, totalizando cerca de 330 atendidos. “Nós temos atividades com crianças no período da manhã e no período da tarde. À noite, geralmente tem alguns cursos profissionalizantes”, conta.
Jair lembra que estes cursos capacitaram muitos profissionais que hoje estão no mercado de trabalho de Botucatu. “Tem alunos, por exemplo, que estão hoje no Conservatório de Tatuí, tem alunos que passaram para a área musical e são músicos, tem alunos que trabalham em vários lugares”.
Hoje em dia, alguns ex-alunos da associação trabalham na própria entidade. “Todas as vezes que nós tivemos a chance de contratar estagiário, os estagiários tornaram-se professores lá, e hoje nós já temos até uma ex-aluna que trabalha na AFRAPE hoje, que já está fazendo faculdade”.
Svicero salienta que qualquer pessoa pode se voluntariar no projeto. “Qualquer pessoa pode ser voluntário na AFRAPE, mas ela precisa saber o que ela quer, o que ela é boa e o que ela pode fazer. Se você aproveita a capacidade do outro, ninguém vai criar caso com ele. Nós tivemos muito professores, por exemplo, de informática, de fotografia, de violão, de viola, de pintura, de crochê, essas coisas, várias pessoas foram voluntariamente dar cursos para a gente lá. Você valoriza o voluntário e ao mesmo tempo você tira grandes coisas dele, porque o custo é zero, mas você precisa respeitar e fazer ele ser voluntário daquilo que ele é bom”.
A AFRAPE é beneficiária da Prefeitura de Botucatu através do Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente (CMDCA) e do Instituto Embraer, mas também conta com doações de empresas e de pessoas físicas de Botucatu e região. É possível contribuir mensalmente ou uma única vez.
Outra maneira de doar é através dos cupons fiscais. “Uma forma de você contribuir é juntar aqueles cupons fiscais e doar pra gente, sem CPF. Através daqueles cupons fiscais a gente consegue reverter algum valor para nós também, então eles também são muito importantes. Por exemplo, um lojista ou qualquer empreendimento que tenha muita emissão de cupom fiscal, se guardar o cupom e dar para a gente, sem ser nota paulista, conseguimos recuperar parte dos impostos para nós”, conta Devienne.
“Outra forma de doar é durante a declaração de imposto de renda, que você pode ajudar”, conclui o atual presidente da AFRAPE. Confira mais informações sobre doações para a Associação Fraternal Pelicano por este link.
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