O nosso país é um dos que mais matam mulheres no mundo, em números absolutos. Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado no início de julho deste ano, traçou um mapa da violência contra a mulher nos meses da pandemia de covid-19. O levantamento mostra que um quarto das mulheres entrevistadas relatou ter sofrido violência física, sexual ou verbal nos 12 meses anteriores.
De acordo com o estudo, o número de vítimas de feminicídio foi recorde em 2020: houve 1.350 vítimas, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior. Ainda segundo o estudo, quase 15% dos homicídios contra mulheres cometidos em 2020, em que os autores do crime eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas, não foram registrados como feminicídio.
Os dados demonstram que é necessário aumentar as políticas públicas destinadas ao enfrentamento da violência contra a mulher e investir muito na formação do sistema de segurança para que se tenha a real dimensão do fenômeno no Brasil. É preciso um esforço conjunto e mundial.
Os dados indicam que 9 em cada 10 mulheres vítimas de feminicídio morreram pela ação do companheiro, do ex-companheiro ou de algum parente. Essa é a forma mais impactante de violência contra a mulher e atinge o maior direito: o direito à vida.
Considerando que as mulheres têm sido assassinadas por sua condição de mulher, mas que a maioria dos casos aponta o seu parceiro íntimo como autor, é claro que o papel do homem nesse contexto é determinante. É preciso incluir os homens no processo de desconstrução desse modelo tão violento de relações sociais.
É sabido que as medidas punitivas por si só não trazem mudanças benéficas no comportamento humano, torna-se imperioso na questão da violência contra as mulheres a desconstrução do machismo e a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340 de 07 de agosto de 2006) inclui recentemente no seu artigo 22, “a obrigação do agressor frequentar centro de educação e de reabilitação e ter acompanhamento psicossocial”,
Essa inclusão traz uma “luz no fim do túnel”, é uma oportunidade de prevenção, pois obriga os homens a passarem por atendimento nos centros reflexivos, onde os homens têm a chance de meditarem e discutirem sobre as raízes dos seus problemas, conhecerem quais “gatilhos” desencadeiam seus momentos de violência e se necessário terem atendimento com psicólogos. Temos várias experiências exitosas no Brasil como os programas “Tempo de Despertar”, “E agora Jose”, “Papo de Homem” e outros.
Homens e mulheres querem a paz, e portanto, para que a mesma exista, é necessário que ambos a busquem. O ônus da violência contra a mulher não pode recair apenas contra as mesmas, os homens também precisam ser protagonistas das mudanças para que a paz ocorra. E isso só ocorrerá quando os homens tiverem oportunidade de desconstruírem a cultura do machismo, tão enraizada na sociedade brasileira.
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