Uma das primeiras atividades dos belgas em Botucatu foi a agricultura (Imagem: Reprodução/Centro Cultural Botucatu)

Há 60 anos, iniciava-se a colônia belga em Botucatu

Em 30 de julho de 1960, foi declarada a independência da República Democrática do Congo. O país africano, chamado à época de “Congo Belga”, era submisso a um regime colonial pela Bélgica. Pode não parecer, mas isso tem tudo a ver com o desenvolvimento do meio rural de Botucatu.

Após o processo de independência, o governo da Bélgica teve de remanejar os cerca de 89 mil colonos belgas que moravam no país subsaariano. Neste cenário, foram apresentadas duas opções: o regresso à Bélgica, proposta mal-recebida por boa parte dos colonos, que buscavam condições de vida semelhantes às que já possuíam no Congo; e a migração para um terceiro local.

Na disputa, estavam dois países: a Austrália, que fora rapidamente descartada pelos belgas, e o Brasil. Ainda que tivesse embaixada e consulados em nosso país, a Bélgica não tinha familiaridade com o território brasileiro. Para driblar esta adversidade, se utilizou da experiência de seu país vizinho, a Holanda, que já possuía um projeto semelhante no estado de São Paulo: a experiência agrícola de Holambra, na região de Campinas.

Com a ajuda do presidente holandês, o local escolhido foi a fazenda Monte Alegre, na cidade de Botucatu. Muito conhecida na região, a propriedade era vistosa: possuía 4.010 alqueires (9.704 hectares) e 1 milhão de pés de café. Na época, a área custou o equivalente, hoje, a 650 mil dólares.

Em 22 de setembro de 1961, foi fundada oficialmente a Sociedade Cooperativa Agropecuária Belgo-Brasileira (SCABB). No início, a fazenda foi dividida e coube a cada cooperado 50 hectares. Porém, com a volta de muitos belgas para sua terra natal, as terras foram redistribuídas e cada cooperado passou a ter até 150 hectares.

Em dez anos de existência, no ano de 1971, a colônia já contava com 405 pessoas, com 14 casamentos e 40 nascimentos no período. (Imagem: Colagem/Armando Delmanto e Eliane Leite)

A cidade de Botucatu animou-se com a chegada dos imigrantes e se preparou para recebê-los. Entretanto, as incontestáveis diferenças entre a nossa região e o Congo – principalmente na população, economia e idioma – juntamente à experiência de estar em um país desconhecido com um apoio insuficiente de seu país de origem, acabaram por desagradar muitos colonos.

Para sanar este problema, o governo da Bélgica criou fundos sociais e bolsas de estudo para a comunidade belga em Botucatu. Com isso, a Fazenda Monte Alegre passou por muitos avanços: construção de uma usina de ração, usina de arroz, dois silos, queijaria, três escolas, 45 casas e a Capela Santo Agostinho, que se mantém até hoje.

Porém, a agricultura no local não rendeu muitos frutos, sendo um dos principais motivos de descontentamento dos belgas; a SCABB, então, optou pela pecuária e produção de derivados do leite.

Após novos investimentos, fora criada a Laticínio Belco, primeira no Brasil a produzir leite embalado em saco plástico. O leite, a manteiga e o queijo da empresa se popularizaram na região e em todo o estado de São Paulo. Anos depois, o laticínio foi adquirido pela companhia “Leite Paulista”.

No início dos anos 80, Botucatu e a Fazenda Monte Alegre também foi sede da Cervejaria Belco, que por divergências com a prefeitura da cidade, foi transferida para São Manuel. Mas esta história grandiosa das indústrias Belco fica para outra matéria.

One Reply to “Há 60 anos, iniciava-se a colônia belga em Botucatu”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *