Há 166 anos, a “Freguesia do Districto de Cima da Serra de Botucatú” deixava de ser um povoado e erigia-se como “Villa de Nossa Senhora das Dôres de Botucatú”: há 166 anos, nascia a cidade que hoje conhecemos e vivemos.
Embora tivesse destaque na produção de algodão, queijos e carne bovina e suína, a economia botucatuense girava em torno do café, exportando cerca de 35 mil arrobas – aproximadamente 525 toneladas do grão.
Na nossa cidade, calcula-se que havia cerca de 1.200.000 pés de café na década de 1870. Para se ter uma ideia, Botucatu tinha 5.137 habitantes (sendo 341 escravos); ou seja, havia cerca de 233 pés de café para cada munícipe.
Nesta mesma época, foi descoberta uma nova variedade de café em nossa cidade: o café “amarelo de Botucatu”, conhecido por seus frutos amarelados, destacando-se entre os tradicionais frutos vermelhos e atingindo popularidade internacional.
O comércio desta variação, novidade no mercado agrícola, foi um grande impulsionador da popularidade de Botucatu dentro da produção cafeeira.
Café amarelo de Botucatu (Imagem: Reprodução/ReviewCafé)
Duas décadas mais tarde, o setor produtivo começava a passar por maiores dificuldades. O aumento de impostos, a disseminação de pragas nas lavouras e as variações constantes do preço da saca dificultaram a comercialização do café no mercado interno. A gota d’água veio em 1893, quando o governo limitou as plantações de café.
Já era sabido que algo deveria ser feito para mudar esse cenário. Eis que surge Manoel Ernesto da Conceição, mais conhecido por Conde de Serra Negra. Estrategista por natureza, viu no mercado externo uma alternativa comercial para as várias toneladas de sacas de café estocadas em seus armazéns.
Sua ideia era divulgar o café brasileiro na Europa, visando atender o mercado externo. Com o apoio de mais 217 cafeicultores, o conde contratou o pintor italiano Antônio Ferrigno, propagandeando o produto nacional para todo o Velho Mundo.
“A Colheita”, de Antonio Ferrigno (Imagem: Reprodução/Museu Paulista da USP)
Hoje em dia, a memória dos anos dourados da cafeicultura de Botucatu continua viva, frente aos nossos olhos: o Museu do Café da Fazenda Lageado esforça-se em preservar a arquitetura e as máquinas daquela época.
Localizada na antiga “Casa Grande” da centenária fazenda, o local já abrigou a Estação Experimental de Café, primeira iniciativa do gênero no país, entre os anos 30 e 70. O projeto tinha por objetivo desenvolver pesquisas e experimentos técnico-científicos na área da cafeicultura e diversificar a produção agrícola em áreas de antigos cafezais.
Atualmente, o museu reúne equipamentos, peças, livros, mobiliário e imagens sobre o período em que a produção cafeeira da Fazenda Lageado estava a pleno vapor. Além disso, o local recebe também diversas exposições artísticas e apresenta artefatos arqueológicos obtidos na área da fazenda e na região de Botucatu.
Hoje temporariamente fechada por conta da pandemia do novo coronavírus, o Museu do Café é, sem dúvidas, um local de visita obrigatória para toda e qualquer pessoa que more em Botucatu ou que esteja visitando a nossa cidade.
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Foto de capa: Karen Ingrid Tasca